16 de Abril - Chichen Itza, México

Não sei nem por onde começar, tem coisas que são realmente inacreditáveis, Chichen Itza é uma delas, não por ser mais bonita que outras ruínas e lugares, mas porque segue perfeitamente preservada e por detrás de suas ruínas existem muitas histórias, vou tentar contar um pouco do meu dia, mas já sei que o sucesso em transmitir este lugar é quase que uma missão impossível.

Acordei várias vezes durante a noite, não de ansiedade, é porque não tenho despertador, então durmo preocupado e acordo muitas vezes. Pra saber a hora eu tenho que ligar a câmera, tirar uma foto e ver que horas ela foi tirada, aí sei que horas são. É divertido mas ao mesmo tempo não funciona muito bem, porque você nunca acorda na hora exata e sem contar que dormir preocupado você nao descansa direito. Ou seja, queria acordar às sete e meia, acordei às seis e cinquenta e depois oito e quinze, quando levantei.

A Anne já não estava lá quando levantei, as coisas dela estavam, mas ela já tinha saído, sei lá pra onde. Tomei um banho, peguei minhas coisas e comecei a subir em direção ao parque, é uns vinte minutos de caminhada, de boa. Antes passei em um posto pra comer um sanduíche e um leite (25), cheguei no parque às nove, uma hora de atraso, mas tudo bem.

O parque tem uma mega infra-estrutura porque é um dos lugares mas visitados do México, muitas pessoas acreditam que Chichen Itza está para os Maias, como Machu Pichu está para os Incas, o que é uma grande bobagem. Estes lugares são mais famosos, ou seja, viraram Mecas do turismo mundial. Na verdade tanto para Incas e Maias existem inúmeros outros lugares que não são visitados por todos, mas que são tão fabulosos quanto, por exemplo Tulum, mas que poucas pessoas visitam.

Na entrada existe um imenso estacionamento pra ônibus, cabem uns cinquenta ônibus, ou seja mais de duas mil pessoas, só de tours. Por isso de manhã é melhor, porque o parque não é cheio e você desfruta melhor, os tours costumam chegar ao meio-dia e o parque vira um inferno. Existe alguns restaurantes, lojinhas, serviços de guias em vários idiomas (não tem em português) mas com preços exorbitantes e uma livraria com mil e um livros a respeito do parque, ou seja, o lugar é pra fazer dinheiro, não que eu ache errado, é até melhor porque eles tem mais dinheiro pra cuidar de tudo e devem precisar.

Paguei minha entrada (100), ganhei uma pulseira e um boleto, passei pelas catracas e enfim estava dentro, pronto pra desfrutar. Chichen Itza, terra dos Itzais, capital de um império por mais de duzentos anos, centro político influente em toda Mesoamérica, terra de Kulkulcán, o imperador da Península de Yucatan. Assim foi a cidade que estava prestes a descobrir, era nove da manhã, eu tinha todo tempo do mundo, e eu precisava dele.

Chichen Itza é diferente, é grande, tem construções que mostram o poder que ostentava a muitos anos atrás, foi abandonada muito antes da chegada dos espanhóis, sem motivos aparentes, mas provavelmente por superpopulação. Mas o que encanta é que tem uma história que mistura mitos e verdades e que torna o lugar pura magia.

Entrei e caminhei em direção à praça principal, onde se começa o passeio, existe um circuito que passa por tudo também, mas aqui muito bem sinalizado, impossível se perder. Se você gosta de apreciar tudo, vai tomar tempo, pelo menos três horas e caminhando. Comprei uma água (25) porque é totalmente necessário e comecei o passeio de fato.

A primeira coisa que você vê é a piramide, e aí você chora, literalmente chora, porque ela é linda e está preservada, tudo perfeito, só a pintura que se foi, mas todos os detalhes estão ali pra você. Ela fica no meio do parque, entao você faz um circuito ao redor dela, ou seja todo o tempo se você olhar pro lado direito verá ela lá imponente, a única coisa que muda é o angulo, e as sombras, quando é muito cedo o sol atrapalha pra tirar fotos. Tirei muitas fotos, o lance que não é muito bom é que não pode mais subir seus degraus faz dois anos, mas eu acho certo, melhor eu não subir e daqui a cinquenta anos outra pessoas poderem vê-la do mesmo jeito que eu vi. Dar pra receber, vocês sabem do que eu estou falando, né.

Vou deixar pra falar da pirâmide no final, porque ela não é uma simples pirâmide, ela é muito mais que isso! Você começa o trajeto pelo jogo de pelotas, o maior já encontrado. O estádio e gigantesco, existe um palavra né, faraônica, mas esta palavra foi criada da derivação de faraós, em relação às pirâmides do Egito, eles deveriam repensar porque não é justo que os maias não tenham uma palavra pra eles. Enfim sem delongas, o lugar é gigantesco, havia duas arquibancadas para o pueblo e um lugar mais elevado (tipo camarotes), é claro, para o nobres. Ao fundo do campo está o Templo das Monjas, onde somente as ditas deste círculo social podiam ficar, tudo bem bonito, mas você olha pro lado e lá está a pirâmide.

Seguindo você encontra uma construção mórbida, cheia de crânios esculpidos, junto ao Templo de Vênus, onde eram realizados algumas cerimônias. Por exemplo, o time perdedor do jogo de pelotas era decapitado e suas cabeças iam direto pro lugar onde tem as cabeças escupildas, e isto era um ritual, uma cerimônia e um esporte, tudo junto. Usar o sangue pra lavar a terra de onde eles tirariam seu sustento no próximo ano. Eu amo história, tudo isto pesquei de grupos com guias, um ficou até bravo, mas fingi que não entendia a língua dele e aí ele ficou de boa.

Logo depois, você pode ir pra o Cenote Sagrado, um enorme reservatório natural de água usado em Chichen Itza. Era usado para abastecer a população, mas para isso sacrifícos eram necessários. O Deus que rege a cidade é o Deus da chuva, ou seja, quando não chovia, eles iam lá no cenote e atiravam criancinhas, de ambos os sexos, roupas, pedras preciosas, o que achassem necessário, o cenote é mesmo enorme mas perto das ruínas se torna uma atração sem o devido valor.

Depois de lá, aí é piada, o Templo dos Guerreiro e das Mil Colunas, esse lugar vale a pena pra se perder uma meia hora tentando imaginar como ele foi durante o auge. Mil colunas eu não sei se tem mesmo, mas se não tiver está bem próximo. As colunas começam no Templo dos Guerreiros e seguem por toda a extensão norte até chegar no Mercado, que também é lindo com colunas gigantescas. Cada coluna tem hieróglifos representando um guerreiro que se foi, ou seja, cada coluna é única, várias são só colunas, provavelmente porque eles abandonaram a cidade antes de perderem mil guerreiros. Poderosos.

Existem várias outras construções, que talvez sejam importantes também, mas não sei, porque não paguei guia e não ouvi nada a respeito. A Praça Sul vale a pena porque abriga O Observatório e A Universidade, construções imponentes. Aqueles que eram diferentes (mais inteligentes) se mudavam pra esta parte da cidade e viviam o resto da vida lá, de alunos a mestres, aprendendo e ensinando as ciências do futuro, entre elas, astronomia, escrita, arquitetura e também medicina. Totalmente desenvolvidos. Nesta parte dá pra perceber o quão importante eles foram.

Agora vamos lá, a pirâmide é um enorme relógio do sol, onde é possivel saber tudo o que o povo necessitava, tem quatro escadarias com 91 degraus cada, que somados dão exatamente 364 dias, mais a plataforma superior que é comum a todas, resulta 365 dias, o ano maia. Os lados que estão entre as escadarias, formam os 18 meses maias. Mas os fato mais incrível acontece nos equinócios, quando devido à sua posição estratégica que aponta para o norte magnético, a serpente ascendente ou descendente se forma, orientando o povo a respeito do plantio e da colheita. Isto há mais de mil anos atrás, é realmente inacreditável.

Fiz o circuito inteiro, tentando aproveitar tudo, ouvindo os guias quando possível, tirando minhas conclusões quando achava necessário, e tentando entender aquele povo, sentir aquele povo. Já disse isso antes, a energia continua neste lugar porque foi depositada ali durante muito tempo e ali permanece. Vai de você querer compartilhar dela ou não, você pode passar por ali, tirar umas fotos e voltar pra casa com sensação de dever cumprido. Você pode também tirar o tênis e andar descalço (vocês sabem que é diferente, né) pelos gramados, sentar no chão e rezar um pouco, pro Deus que você quiser, agradecer tudo que você tem ou teve, meditar, enfim compartilhar as energias que estão ali pra você.

Saí do parque por volta das duas da tarde e resolvi voltar a Piste, tinha que ver uns e-mails, pois tinha combinado com os portugueses de fazer uma viagem de carro a outras ruínas, tinha que ver se estava tudo certo, se sim, teria que voltar a Tulum, se não, seguiria à Mérida. Comprei um suco (10) pra ir bebendo no caminho, o sol tava muito forte. Cheguei na lan, nada de e-mails, ou seja, algo aconteceu, ou desistiram ou arrumaram outra pessoa, não sei. Pra garantir mandei um e-mail perguntando, só pra garantir.

Voltei ao hotel pra fazer o check-out, estava atrasado já, porque é só até à uma da tarde, mas foram de boa comigo, não falaram nada, e ainda deixaram eu largar a mochilona lá pra pegar só na hora de ir embora. Resolvi que iría ficar em Piste até às oito da noite pra voltar as ruínas assistir o show noturno Luces es Sonidos e depois tomaria meu rumo que seria definido pelo e-mail. Só um detalhe, quando voltei as coisas da Anne já não estavam mais lá, nada, ela já tinha ido sei lá pra onde, meio estranha, mas cada um na sua.

Fui em um restaurante matar o tempo e comer alguma coisa porque estava com fome. Pedi nachos com frijole e queso e uma cerveja, e comecei a escrever no meu livro. Escrevi muitas coisas, a respeito de tudo que senti durante a manhã, as ruínas, pensamentos, algumas bobagens quem sabe, matei o tempo. Depois pedi uns tacos e outra cerveja, fiquei lá mais ou menos uma hora e meia e resolvi que era hora de verificar os e-mails de novo. Paguei a conta (100) e voltei pra lan.

Nada de e-mails ainda. Postei umas fotos, conversei um pouco, olhei os outros dias do blog, comentários, erros e tudo mais. Arrumei algumas coisas, coloquei mais algumas fotos e resolvi que era hora de voltar pro parque, pro show noturno.

O show não é incrível, mas é bem bonito, muitas pessoas vão ver, então se forma uma grande fila pra pegar as cadeiras que são colocadas no gramado. Os que primeiro chegam pegam as primeiras cadeiras, eu peguei a oitava fileira, mas enxerguei um cadeira vazia na primeira fileira e fui perguntar só pra tirar a dúvida, estava vazia, era minha! O show na verdade é uma aula de história, dura quarenta e cinco minutos, algumas pessoas até dormem, eu prestei atenção em tudo, muitas coisas que escrevi pra vocês, aprendi no show. Ou seja, vale a pena, sem contar que é de graça pra quem foi à tarde, por isso eu não paguei nada, ótimo. A única coisa difícil é ir embora daquele lugar, olhar uma última vez pra pirâmide, sabendo que talvez nunca mais irá vê-la, mas sei que fiz tudo que devia ali, e que era hora de seguir meu caminho. Não se preocupe, isto não é certo, mas eu lembrei de pegar uma pedrinha pra você.

Saí do show e voltei pra lan, só pra verificar os e-mails, não tinham me enviado nada, era dez da noite quase. Fiquei indeciso sobre o que fazer, perguntei pra minha mãe e ela disse pra eu seguir meu caminho, resolvi ir pra Mérida, uma nova cidade, novas pessoas, será bom também. Voltei pro hotel, peguei minha mala e fui pra pracinha de Piste esperar meu ônibus. Demorou uma hora e meia pra passar, então comi um perro caliente e tomei uma coca (30) e enfim o ônibus chegou, era meia-noite. Entrei no ônibus, paguei a passagem (60) e me despedi. Chichen Itza, patrimônio da humanidade, terra dos Itzais.

Experimentei uma coisa muito boa, sentei olhando pra pirâmide e fechei meus olhos, o parque tava cheio de gente batendo palmas pra fazer eco, conversando, lotado, mas não liguei, esqueci os barulhos, estou cada vez melhor nisso, mentalizei coisas boas e só coisas boas passaram pela minha cabeça. Pensei na família, nos amigos e nas boas oportunidades que nos foram dadas, agradeci, com os olhos sempre fechados, só você, e as energias, e às vezes você pode senti-las, quem acredita é claro, este é o primeiro passo, mas eu acredito. Pensei em quantas pessoas especiais existem na minha vida, pensei em quão poderoso isto é, estar rodeado de pessoas especiais e boas energias, pessoas que só querem seu bem, senti saudades, saudades daquelas que logo verei e saudades daquelas que nunca mais, pelo menos não aqui, inevitavelmente chorei, chorei pensando nestas pessoas especiais e em um lugar especial, e enfim abri meus olhos, e alí estava ela, continuava ali, naquele momento só pra mim, pra dividir comigo tudo que eu sentia, A Grande Pirâmide de Kukulcan. Isto é aproveitar um lugar.

Meu beijo de hoje vai pra uma pessoa que não tenho muito contato mas que sei que sabe do que estou falando e pra todos vocês que hoje foram lembrados:

- Ana Eliza, que pôde subir os degraus e ver a beleza do alto, mas que mais importante que isso, pôde sentir a energia deste lugar.
- Nana, porque isto não é a respeito de dinheiro e sim de enriquecimento da alma.
- Tina, porque só tenho que agradecer a você, você foi quem por mais tempo passou pela minha cabeça.
- A todos vocês que fazem de mim uma pessoa feliz.