sábado, 12 de abril de 2008

12 de Abril - Cobá, México

Dez dias, hoje faz dez dias que comecei esta viagem, faltam quarenta, tenho um longo caminho pela frente, mas acredito que está ficando cada vez melhor e quando eu menos perceber acabou, a verdade é que a viagem está muito boa, mas tem horas que me sinto meio sozinho, não porque estou de fato sozinho, mas porque as pessoas que conheço por aqui não são de fato meus verdadeiros amigos, mas vamos lá.

Acordei por volta das 8 e meia, e fui tomar o café, aí começa o engraçado, no albegue que estou agora, existe a cozinha comunal, que tem algumas geladeiras, uma churrasqueira gigante, chapas, panelas, copos, talheres, enfim, um monte de coisas de cozinha que são de todos e para todos, e o café é de graça, lembra que eu falei ontem, só que é assim, ninguém faz a comida pra você, cada um faz a sua, então tem um balcão com farinha, frutas, mel, pães, cereal, ovos, geléia de amendoin, e aí é cada um por si, então imaginem 50 pessoas, mais ou menos da mesma faixa etária, com tradições completamente diferentes, afinal cada um acostumado com um tipo de café, fazendo seu café da manhã, é a maior zona do mundo, mas engraçado, muito engraçado.

Existem os que fazem ovo mexido, eu mesmo fiz um pra mim, mas tem gente que põe morango, manga, melão no ovo mexido (???), aí alguém vê e acha engraçado e conta pra todo mundo e todo mundo vai ver, literamente todo mundo, é só risadas. Surge então um cidadão que coloca suco de laranja no cereal, tipo sucrilhos com suco de laranja, outra vez todo mundo corre pra ver, açúcar no leite pra alguns é um pecado, pra outros o pecado é comer só pão com manteiga, sei lá, foram várias risadas, mas no fim, fiz meu ovo mexido só com cebola e sal, duas torradas com geléia de morango e comi cereal com banana, tive que comprar o leite (12) que não estava incluído e estava pronto pro passeio.

Tomei só uma ducha antes de sair e fui pro terminal de ônibus pegar o ônibus (27) pra Cobá, outra cidade Maia aqui das redondezas, mas esta foi outrora a capital do império Maia, ou seja é gigantesca, e é do período clássico, auge dos Maias. Ela foi abandonada por volta de 1200 D.C. por alguma razão que não se sabe ao certo, mas provavelmente porque nesta época, cidades costeiras começaram a ter mais influência por causa da navegação, uma destas cidades costeiras é Tulum, a bela de ontem.

Uma hora de ônibus e estava em Cobá, a vila de hoje em dia deve ter uns 250 habitantes, todos de origem Maia e que falam maia, ou seja você não entende nada, eles entendem e falam espanhol é claro, mas não entre eles, nunca, por uma questão de orgulho e de manter suas tradições, comprei uma água (17) porque já tinha lido que neste sítio arqueológico as zonas de interesses estão bem distantes, então você tem que andar bastante, por isso a água, pra hidratar.

Diferente de Tulum, não havia muitos ônibus e pessoas, somente um grupo grande e algumas pessoas avulsas. Fui até o guichê, comprei meu boleto (48) e segui pro parque, pedi um mapa, mas não havia, falaram que dentro tinham sinalizações que eu poderia seguir. Mentira! Existem somente umas setas que por sinal, às vezes indicam o caminho errado, porque a placa caiu e alguém pôs ela em pé de novo, mas apontando pra outro lado, bem diferente de Tulum, onde a infra-instrutura é ótima.

Cheguei no começo do parque, perto da entrada, e comecei a ver algumas ruínas, vi uma bem interessante que era tipo o estádio dos Maias. Eles tinham um esporte bem semelhante ao futebol, eram três contra três, e consistia em passar um para o outro até passar uma bola por dentro de um arco, só que não podia usar nem as mãos e nem os pés, somente o quadril. Devia ser difícil, naquele parque que eu pensei em ir, Xcaret, tem uma apresentação do jogo de pelotas pré-colombiano, quem sabe na volta.

Depois segui e aí que o bicho pega, o parque é no meio da selva, selva fechada, só abriram as trilhas pra ligar uma zona de interesse à outra, são cinco zonas, a mais interessante que tem uma pirâmide gigantesca tem que andar só cinco km, mas pra percorrer tudo você anda bem uns dez km. Existe a possibilidade de alugar uma bicicleta, por 30 ou de tomar um táxi-bicicleta, que leva duas pessoas, por 95, os preços são justos, mas não sei porque resolvi ir andando.

Eu queria muito ouvir as explicações do lugar, mas só tinha um grupo grande, então não ia dar pra ficar ouvindo as explicações do grupo de graça, era muito cara-de-pau, resolvi perguntar o preço pra um guia, 300 pesos, nem é caro se você está em 6 pessoas, mas sozinho é uma facada, tentei negociar mas não teve jeito, era caminhar sozinho e sem guia, pelas trilhas labirínticas de Cobá. Se um dia vierem a Cobá, tentem vir com um grupo, é melhor, ter uma pessoa que conhece o caminho e pode te dar explicações, ou pegue um táxi-bicicleta, já conto o porquê.

Seguindo pra outra zona, andei uns dois km e tava no templo das pinturas, um lugar que ainda é possível ver algumas paredes com os coloridos Maias, mas não é nada demais, uns 500 metros a frente tem uma seção só com uns ídolos em pedra, Deus disso, Deus daquilo, sem um guia você nunca vai saber, eu por exemplo não sei, só fui saber que eram os Deuses porque me contaram na saída.

Mas aí que vem a pior parte, por causa de uma placa errada comecei andar pro meio da floresta à procura da grande pirâmide, teoricamente se você seguir as setas, você faz um circuito que te leva por último à grande pirâmide, mas teoricamente, nunca funciona na prática. Continuei indo por causa da seta, achei que tava certo, já tinham me falado que tinha que andar bastante pra chegar na pirâmide, então continuei andando. Não cruzei com ninguém por 1 hora, mas em Cobá isto acontece porque é muito grande e não tem muita gente, mas a mata começou a fechar e a trilha foi diminuindo, resolvi voltar, não fiquei muito nervoso nesta hora, era só voltar.

Na volta, caminhos e bifurcações que você não tinha visto surgem do nada, e você se sente perdido, aí você começa a se sentir nervoso, trilhas no meio do mato são todas iguais, as árvores que você tem certeza que passou por elas, não são as mesmas, nunca são. Respirei e resolvi que eu tinha vindo pelo caminho da direita, mas ainda tinha que andar bastante, mas por sorte encontrei uma perdida, perguntei se ela sabia aonde estava indo, ela disse que tava seguindo a seta pra pirâmide, eu falei que não tinha nada lá, pelo menos eu achava isso, contei do caminho e resolvemos voltar juntos, deu certo, voltamos pra seta e fomos na direção contrária, desta vez o caminho certo.

Depois de perder uma hora e meia, meio que perdido, tive que andar mais uns quarenta minutos, passei na penúltima zona e enfim tinha chegado na pirâmide e é aí que você esquece de quanto andou, que ficou perdido, que ta cansado e tudo mais. Ela é gigante, tipo muito grande mesmo, e tem mais de mil anos e continua ali, depois de furacão, enchentes, mil anos, é muito tempo, pense bem, e é enorme.

A grande pirâmide de Cobá! A pirâmide pelo que pude ouvir era um templo de sacrifício aos Deuses, a maior construção Maia da península de Yucatan. Estes sacrifícios, humanos, consistiam em decapitar os mais desafortunados pra acalmar os Deuses e pra que as colheitas fossem boas. Depois de decapitados suas cabeças e seu corpos eram jogados do alto de seus cento e vinte degraus e iam rolando pra delírio da multidão que se aglomerava lá embaixo. Mórbido? Talvez, mas de fato aconteceu e eu estava ali, e eu acho incrível tentar imaginar a cena e pensar que talvez a mil anos uma oferenda desta estivesse acontecendo ali, onde mil anos depois eu estaria.

Você pode subir seus degraus e ir até o local do sacrifício, cansa e muito, mas estar ali e não subir é o mesmo que não ter ido, então subi, fiquei aborrecido por estar sozinho, queria que alguém tirasse uma foto lá de baixo comigo lá em cima, sozinho não dá nem com o timer, porque só dura 10 segundos, eu precisava de uns 5 minutos, mas o grupo grande chegou e pra minha felicidade um monte de gente subiu e eu subi junto tirei fotos lá de cima e depois um rapaz desceu com minha câmera pra tirar fotos comigo lá em cima, ótimo!

¨Pra gente ver por entre os prédios e NÓS,
Pra gente ver o que sobrou do CÉU¨

A vista lá de cima é muito linda, você está muito mais alto que a copa das árvores, muito mais e no meio daquele mar verde que é a floresta, você enxerga a pontinha de uma outra pirâmide de pedra que está do outro lado do parque, bem massa, esqueci dos problemas, rezei um pouco lá em cima, agradecendo por tudo, sem pedir nada, só a paz.

Desci e resolvi que ia voltar de táxi-bicicleta, mas no fim comprei uma água (45) e voltei a pé mesmo. A água é cara porque é uma barraquinha do lado da pirâmide, ou seja, pode por o preço que quiser, vão pagar. Voltei pensando em como tinha sido estúpido de ter ido pra Cobá de havainas, foi a pior idéia do mundo, se forem um dia, vão de tenis, isto é uma dica preciosa.

Saí do parque, voltei pra pegar o ônibus de volta pra Tulum, mas ele tinha acabado de passar, ia precisar esperar três horas pro próximo, resolvi almoçar então, que tava com fome. Fui em um restaurante do lado do ponto de ônibus e pedi tacos com pollo e queso picante (85), muito bom, mas imaginem o quanto picante tem que ser pra se chamar queso picante, então cuidado. Por sorte chegou mais quatro perdidos, três chilenos e uma inglesa e a gente pegou um táxi (30) pra Tulum, meia hora mais rápido, e o motorista era uma piada, valeu a pena.

Vim pra lan, conversei um pouco com o Muraoka, com a Flavinha, e resolvi escrever pra vocês, dividir a história e deixar algumas dicas pra futuros mochileiros, o que me admirou foi que no dia de ontem não havia recado da Cíntia, mas mais tarde ela comenta, ainda mais de um dia como ontem. É isso aí, amanhã sigo pra Valladolid, perto das ruínas de Chichén-Itzá, que é a menina dos olhos dos mexicanos, lá quero ver como vai ser, energias boas me esperam, energias boas nos esperam, beijos a todos. Minha cabeça segue mudando, meus sonhos ainda não.

Só pra completar o dia, depois da lan, voltei pro albergue, comecei a conversar com a galera, nomes eu não lembro, porque são muitos e muitas vezes bem diferentes, mas fiquei conversando com um alemão, uma dinamarquesa, uma suiça e um canadense. Os três primeiros tinham acabado de voltar de Cuba, enquanto o canadense irá para lá. O alemão ficou 4 semanas lá e as meninas apenas duas. Eles falaram tão bem do país, de quanto é interessante, um país parado no tempo. Entre cervejas e muita conversa descobri muito de Cuba. É um lugar que devo visitar.

Mudei de lugar pra desta vez conhecer três holandeses. Eles são muito gente boa, conversamos um monte, um deles está morando no Suriname, e já foi algumas vezes ao Brasil, batemos um papo e resolvemos sair pra algum barzinho. Convidamos a dinamarquesa e a suiça e fomos. O barzinho é bem legal, chama La Lupita e tava cheio de mochileiros, conclusão, uma grande mesa de mil nacionalidades, se divertindo e dançando. Saímos do bar às cinco da manhã e voltamos pro albergue, lá continuou a festa. Conversamos de viagem, política, todos atacam os americanos, eles se defendem, mas tudo na boa, enfim o café começou às sete, comi umas torradas com ovos e fui dormir, era oito da manhã, ou seja, esqueça Valladolid.

Meu beijo, de hoje vai pra aqueles que realmente durante todos os últimos anos foram minha família, o tempo passa e certas coisas não mudam, essa é uma delas, amizade:

- Amigos, porque não preciso colocar nomes, eles sabem quem são, e neste momento sentem o mesmo que eu sinto, SAUDADES!!!
- Tina, que é mãe de todos.

7 comentários:

Unknown disse...

Tobi...
Que medo!!!dessa parte da floresta!!!Graças à Deus deu tudo certo..."vivendo e aprendendo" diz o dito popular...
Que experiência incrível!!!
Quando vi nas fotos, as pessoas subindo de quatro, lembrei-me do Morro do Careca, em Natal...
Muito legal você estar sendo abençoado por essa energia mágica desses lugares...deve dar a sensação de estar mais perto de Deus...
Fique com Ele...
Beijos, amor...

Cintia disse...

0o <-- sabe o que é isso? é uma carinha de assustada, muito assuatada!!!
Tobi, já imaginou eu e sua mãe aqui, conjecturando sobre o que teria acontecido que o Tobi não postou e não telefonou!!! Já pensou que você sozinho não teria alguém que desse pela sua falta lá? Só nós aqui, tão longe!
Menino, não faz mais isso não! Não vai mais sozinho de jeito nenhum! A gente reza pra Deus te proteger e manda energias boa o tempo todo e daí você abusa, né? :D
Tobi, me desculpe pelo comentário de ontem que não veio. Eu te falei que estava vesga de sono. Se acontecer de novo, entenda que não é por opção pq eu adoro passar por aqui todo dia!
Fica bem! Cuide-se (de verdade)!
Beijos de monte!
PS: tô achando suas fotos de uma qualidade incrível! dá pra ver os menores detalhes das ruínas.

raah leme :} disse...

Oiii!!!Tobi!!!
Tudo bom??? e a Ra!!!
Ai que saudades, nossa faiz tanto tempo que eu nao te vejo!!!!!
Aiii, eu vi suas fotos sao 10!!!
Beijaooo
Tobiii!!!
Ra=)

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Tobias do ceu!
fiquei sem ler uns dias por causa da escola, to estudando demais.
Acho que eu ler um pedaço da vigem também me empolgou, agora to levando a escola mais a serio.
Acho que mais admiravel do que o que voce ta encontrando aí, é o que voce tá fazendo, a coragem... de longe.
É simplesmente demais.
tenho planos pareceidos...

Hoje eu matei umas horas do meu estudo, ainda com prova amanha,pra ler aqui e comentar..
comentar, pq dá vontade e voce merece, e ler pq dá um monte de forças. ;)

sei lá se dá pra explicar o quanto me orgulho de ser seu primo.
E o quanto é estranho e legal pensar, no meio da aula..."porra, agora o tobias ta no meio do Mexico, sozinho, se preparando pra fazer sei lá o que, que se pah nem ele sabe..." :D parabéns...por tudo!!

abraçao!

Cândida Molina disse...

Tobias querido. Estamos acompanhando sua viagem e torcendo por vc. Veja se vê alguma coisa de N. Srª. de Guadalupe, Padroeira do México e da América Latina.É uma história muito linda que passa-se com um índio. Estamos conhecendo lugares incríveis, pelos seus olhos. Deus te proteja. Milhões de bjs...Cân e Ciça.

Juli disse...

avocado with sugar!